Tecnologia e o brincar são aliados para uma infância feliz
Especialistas apostam no equilíbrio para dosar o uso de aparatos tecnológicos na vida das crianças
Novo Hamburgo - Subir em árvore e arranhar as canelas brincando na rua está cada dia mais distante do mundo infantil. Onde a tecnologia tem mediado as relações humanas, os livros, bonecas e cantigas de roda têm perdido a vez. Nesta sexta-feira, no Dia da Criança, lembramos que o desafio de pais e educadores é enfrentar a nova geração provando que há sim infância feliz fora do mundo on-line.
Para a professora de música e mestre em educação da Feevale Denise Blanco Sant’Anna, não há como fugir dos aparatos tecnológicos, mas deve haver um equilíbrio. “O problema é a passividade diante de um recurso, que pode até ser a televisão. Se é para ficar em um computador, que os pais procurem materiais educativos de interação.” Denise diz que o lúdico é fundamental para o desenvolvimento e por isso a importância de cultivar hábitos como contar histórias, brincar e participar de cantigas de roda. “É uma possibilidade de socialização e expressão corporal. A música e as brincadeiras possibilitam isso.”
Pequenos nativos digitais
A competição entre um simples carrinho e uma tela touch screen parece covardia, pois ver uma criança de dois anos mexendo com desenvoltura em um Ipad, por exemplo, já não é motivo de espanto. Conforme o coordenador dos cursos de Comunicação e professor do curso de Jogos Digitais da Feevale, Cristiano Max, a tecnologia é um fascínio desde o começo da humanidade. “O fogo é exemplo disso. O homem tem naturalmente este encantamento pela forma como as coisas são feitas. O que se chamava de mágica na Idade Média hoje chamamos de tecnologia”, pondera. Ele ainda explica que os pequenos têm mais facilidade para lidar com os equipamentos pelo simples fato de estarem mais expostos a eles. Além disso, os aparelhos estão muito mais sofisticados do que antigamente. “É mais natural tocar em uma tela do que usar um mouse, por exemplo”, explica Max. A professora de música e mestre em educação Denise Blanco Sant’Anna defende a tecnologia em vários aspectos, mas chama atenção para o prejuízo, que começa quando o tempo de uso destes recursos é extrapolado. “Criança precisa se movimentar, se expressar com o corpo, sentir e, principalmente, conviver com outras. Não pode haver isolamento em função de um jogo no computador, por exemplo.”
Histórias e jogos na educação de Yasmim
Yasmim Breier Xavier, 4 anos, que mora em Campo Bom, já tem um tablet. O equilíbrio entre a tecnologia e o lúdico é controlado pela mãe e estimulado pela avó. Quase todas as noites Maria Regina Breier, 55 anos, lê contos de fadas para a neta, que mesmo com o “brinquedinho” tecnológico, não abre mão de uma boa história. “Gosto da bruxa e da fera”, conta a pequena. Conforme a avó, ela ouve historinhas desde antes de completar 1 ano. “Ela interage e quando eu vejo ela mesma vai folhando o livro e contando a história pelas ilustrações que vê”, diz Regina.
Já o uso do tablet é controlado pela mãe, Bruna Breier, 22 anos. Ela libera o equipamento no máximo meia hora por dia e, quando Yasmim não se comporta, chega a ficar uma semana sem poder jogar. A estudante de jornalismo vê alguns benefícios da tecnologia no aprendizado da filha. “Quando estou no computador ela vai me perguntando as letras. Agora está aprendendo a escrever o nome”, orgulha-se. Mas mesmo com uma semana de “castigo”, Yasmim parece não sentir muita falta do tablet. Quando perguntada sobre o que preferia entre livros ou o computador, ela não teve dúvida: “Gosto mais de historinha.”
Hora do Conto nas Escolas
A Prefeitura de Novo Hamburgo busca estimular a leitura com o projeto Hora do Conto nas escolas. Uma vez por semana uma professora faz o momento de contação na biblioteca. “Os livros podem estar relacionados a algum assunto que a turma esteja trabalhando. Também são avaliados os critérios de qualidade literária do livro”, explica a assessora da área da linguagem da secretaria de Educação de Novo Hamburgo, Elize Huegel. Os resultados são visíveis, segundo ela. “A Escola João Batista Jaeger trabalha muito forte a questão da literatura e este ano o texto de um dos alunos foi escolhido para representar a cidade na etapa estadual da Olimpíada de Língua Portuguesa. Era um texto de qualidade, com um fundo poético bonito, próprio de aluno com boa leitura.”
Aproximação começa em casa
Os livros devem fazer parte dos brinquedos, desde cedo. “Mesmo engatinhando, o livro deve estar ali com os brinquedos, deve fazer parte daquele universo. Com o tempo, a criança começa a perceber que é dali de dentro que saem as histórias”, ensina a professora Milene Barazzetti Machado, contadora de histórias da Escola Municipal João Batista Jaeger. É possível contar histórias desde que o bebê está na barriga. “Algumas mães e pais fazem isso para o bebê ir se acostumando com a voz. Depois, conforme ocorre o crescimento, basta mudar a maneira de contar”, comenta Milene.
Dicas
Deixe o livro junto aos brinquedos e ao alcance da criança para que ela o manuseie à vontade.
Dependendo da idade, deve-se adaptar a forma de contar. Quando muito pequenas, as crianças gostam de ver as ilustrações.
A hora do conto deve ser em um lugar confortável e com a televisão desligada.
Tanto faz a hora do dia, o importante é que os pais estimulem a leitura até mesmo dentro de uma brincadeira.
Se os pais não quiserem ler, podem abrir o livro e pedir para o filho contar a história apenas olhando as ilustrações.
Mude o tom de voz para que a criança não canse, principalmente nos momentos de conflito.
http://www.jornalnh.com.br/novo-hamburgo/418336/tecnologia-e-o-brincar-sao-aliados-para-uma-infancia-feliz.html
As dicas apresentadas no final da reportagem são de minha autoria, apesar de não ter sido mencionado no texto.
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