terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Rei das Pequena Coisas - Celso Sisto

Para onde irão as coisas perdidas? E nossa memória quando se apaga? 
Na relação de Rodrigo com seu avô Flodoardo, Celso Sisto nos mostra como as histórias podem permanecer imortais quando são contadas. A história de um menino e um avô, contada no tempo de férias em uma praia gaúcha, enche de carinho e lembranças quem lê este livro. O menino é a memória do avô, que está viajando para longe às vezes por tempos curtos, outras vezes longos. 
Lindas imagens perpassam a mente do leitor com as descrições das brincadeiras na casa da praia, e da divertida história do Pequeno Nicolaus, na cidade de Gumentum. O Rei das Pequenas Coisas para o avô era Nicolaus. Para Rodrigo, o avô era esse rei.
A história faz a gente pensar sobre nossas memórias. Aonde podemos encontra-las quando elas estão perdidas. Algumas passagens do livro lembraram minha própria infância na praia, isso fez com que a história me resgatasse ainda mais para dentro dela. Ao final, algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto, quase nem percebi. Bom, a literatura faz essas coisas com a gente, toca a alma e alimenta nossos sentidos.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A extraordinária jornada de Edward Tulane - Kate DiCamillo

Que sentimento pode ter um ser inanimado, um boneco de porcelana? Que sentimento podemos ter por tal objeto? Kate DiCamillo consegue neste livro nos mostrar que os objetos podem sim ter sentimentos e lembranças. A aventura do coelho Edward que pertence a menina Abilene, no início da hsitória, e afasta-se do afago de sua dona por ocasião do destino perpassa todo o enredo do livro. Edward no ínício era apenas um coelho que não sabia amar, não escutava Abilene, nem ligava para o que acontecia com ele. No primeiro momento em que se sente perdido começa a mudar o seu modo de encarar a vida, ou diria, encarar a sua jornada. É incrível a viagem que a autora determina a seu personagem que encontra no seu caminho pessoas de coração bom e afetuosas, e pessoas totalmente ruins. Interessante o contraponto e dá até para se pensar, um boneco de porcelana tem mais sentimento que certas pessoas. Um boneco consegue ter a sensação da perda. Um boneco consegue rever imagens e pessoas do passado no momento de sua "morte". Um boneco reconstruído tem a esperança, em uma loja de brinquedos, que alguém irá buscá-lo. Um coelho que entre encontros e reencontros, conhece o amor. Uma história mágica e linda, que nos remete a infância, nos faz lembrar de nossos velhos brinquedos e do quanto eles foram importantes para nós.

A confissão da leoa - Mia Couto

Mia Couto nos remete ao universo moçambicano, onde as mulheres são acometidas de seus afazeres rurais e não tem hora, nem vez, perante os homens. Um caçador e uma moça, Mariamar, contam a história de ataques de leões e de relações familiares. Mariamar é uma jovem que recentemente perdeu a irmã por conta de ataques de leões e se vê em sofrimento por conta disso e da sua condição de mulher naquele local. O caçador está disposto a eliminar os leões que invadem a aldeia e conta seu percurso ao escritor que o acompanha. Mas a personagem central é Mariamar. Pura, cheia de sentimento, que foi abusada pelo pai, que já não podia andar, que acreditou no milagre da Missão, que foi salva por seu avô e por sua mãe. Mariamar que sonhou em sair daquele lugar e ir para algo melhor, onde ela pudesse ser vista como mulher de verdade, não apenas como uma coisa ou uma serviçal. Lendo o livro conseguimos nos sentir como a personagem, desiludida e perdida, e ao mesmo tempo cheia de amor e esperança. As metáforas usadas por Mia Couto enchem de poesia essa obra peculiar.