As
melhores lembranças da minha infância estão na casa da minha avó Claudina.
Quando
era pequena, tirando as visitas à praia, meu lugar predileto sempre foi a casa
da vó. Uma casa de dois pisos, que tem vários sons. Gosto de pensar no som dos
passos da vovó estalando na madeira e nos murmúrios do meu vovô Anselmo sempre
reclamando de alguma coisa. Aquela cara brava que escondia um coração enorme.
Lembro-me
de todos os mimos e paparicos que recebi. Afinal, eu era a primeira neta.Os
tios e tias me enchiam de afagos.
Vovó
sempre nos esperava com o pão de ló e cuca fresquinhos. Eu chegava a sentir o
cheiro doce antes mesmo de entrar porta adentro.
E
como doce é uma amostra de carinho, lembro de algo especial que só o vô Anselmo
sabia fazer: um chocolate escondido no bolso da calça para dar a seus netos. Um
gesto que parecia simples, mas que para nós valia ouro.
Mas casa de vó precisava também ter
mistérios... As brincadeiras no sótão se encarregavam disso. Aquela escadinha
estreita cheia de barulhos. Aquela janelinha pequena que abre para o telhado.
Era o lugar perfeito para uma grande aventura.
E comer bergamota embaixo do “pé”, então?
Daquelas bem azedas, que faziam escorrer lágrimas dos olhos. Uma delícia, que
só não era mais gostosa que as uvas pretas da parreira.
Ah, mas
ser ajudante da vovó enrolando agnolini no porão é o que fazia a gente se
sentir importante. Lembro-me de tudo, do corte da massa, de colocar aquelas
carninhas dentro e principalmente de formar o chapéu no final. E depois, ver
aquela sopa sendo servida com aquele sabor inigualável.
Só
tem duas coisas que eu não gostava na casa da minha avó: do galinheiro e das
ratoeiras. Tinha pavor daquele galinheiro e de pensar naquelas galinhas que
logo iriam virar um bom caldo. Olhando
na janela do sótão ficava imaginando como ajuda-las a fugir daquele triste
destino. E quanto às ratoeiras, não
pensem que eu tinha pena dos ratinhos não. Na verdade tinha e ainda tenho
horror a ratos. E ver o rato capturado não é uma imagem muito agradável não.
Voltando
as coisas boas, não tem sensação melhor do que estar na casa da avó, como
aquela de família reunida.
Família
de origem italiana, onde todos falam muito alto, choram e riem ao mesmo tempo. É tanto amor e carinho explodindo no coração
de todos!
Afinal,
uma alegria sem fim!
Por Milene Barazzetti
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