terça-feira, 13 de março de 2012

Carta de quem conta história


São Leopoldo, 10 de março de 2012.
                                              
Querida Ale
           
Hoje acordei com saudade. Saudade de sentar embaixo de uma árvore e comer frutas. Saudade de voar como as fadas, de Fernanda Lopes de Almeida. Saudade de correr, sem direção, como os meninos da Rua da Praia, do Caparelli. Saudade do chocolate que ganhava escondido do meu avô.
Lembra quando éramos meninas e criávamos tantas histórias? A briga para ver quem seria a Branca de Neve, a Bela Adormecida, a Chapeuzinho Vermelho? Claro que quase nunca chegávamos ao final da história da briga muito menos, até porque  mudávamos o enredo a toda hora. E por toda parte as histórias se misturavam sempre com a viagem de Alice em seu mundo mágico, que sempre nos encantou.
Aliás, depois que você me deu o livro do Betelheim entendi o porquê da minha adoração por ser a Branca de Neve e também por achar que as coisas poderiam cair do céu ou surgirem magicamente. Hoje vemos que não é bem assim, os príncipes não surgem do nada, quer dizer, as coisas não se materializam na nossa frente.
Parece que com o passar do tempo me sinto ainda mais na corda bamba  como em  Lígia Bojunga e, ao mesmo tempo, me sinto também mais arrogante e questionadora como a Emília de Monteiro Lobato.
Alguns dias atrás você me questionou sobre minha mudança de rumo, sobre não seguir a profissão que escolhemos juntas. Naquele momento só te respondi com uma frase: porque estava parando de sonhar, de viver. Você não me perguntou mais nada, ficou calada. Parece que agora está longe demais para dar algum palpite.
Agora, sinto-me segura para te dizer que tenho vontade é de escrever, como a Raquel, do livro “A Bolsa Amarela” que a mamãe me deu e lemos tantas vezes. Lembra que ela era cheia de vontades? Pois é, descobri que também sou. E descobri, principalmente, que, às vezes, conseguimos matar nossas vontades.
Hoje estou matando a saudade de você sempre por perto. Quando leio um texto para crianças lembro nossas eternas brincadeiras, me emociono. Ao ler Monteiro Lobato, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Bartolomeu Campos de Queirós, Celso Sisto e tantos outros, sinto que posso continuar a sonhar, e issome faz bem. Quero que você pense em mim como a menina que roubava livros, e que está em busca da liberdade. A liberdade da alma, do espírito, principalmente.
                                               Um grande abraço
                                                           Mil beijos cor de cereja para você!
                                                                                                          Mimi

Nenhum comentário:

Postar um comentário