São Leopoldo,
10 de março de 2012.
Querida Ale
Hoje acordei com saudade. Saudade de
sentar embaixo de uma árvore e comer frutas. Saudade de voar como as fadas, de
Fernanda Lopes de Almeida. Saudade de correr, sem direção, como os meninos da
Rua da Praia, do Caparelli. Saudade do chocolate que ganhava escondido do meu
avô.
Lembra
quando éramos meninas e criávamos tantas histórias? A briga para ver quem seria
a Branca de Neve, a Bela Adormecida, a Chapeuzinho Vermelho? Claro que quase
nunca chegávamos ao final da história da briga muito menos, até porque mudávamos o enredo a toda hora. E por toda
parte as histórias se misturavam sempre com a viagem de Alice em seu mundo
mágico, que sempre nos encantou.
Aliás,
depois que você me deu o livro do Betelheim entendi o porquê da minha adoração
por ser a Branca de Neve e também por achar que as coisas poderiam cair do céu
ou surgirem magicamente. Hoje vemos que não é bem assim, os príncipes não
surgem do nada, quer dizer, as coisas não se materializam na nossa frente.
Parece que
com o passar do tempo me sinto ainda mais na corda bamba como em Lígia Bojunga e, ao mesmo tempo, me sinto
também mais arrogante e questionadora como a Emília de Monteiro Lobato.
Alguns dias
atrás você me questionou sobre minha mudança de rumo, sobre não seguir a
profissão que escolhemos juntas. Naquele momento só te respondi com uma frase:
porque estava parando de sonhar, de viver. Você não me perguntou mais nada,
ficou calada. Parece que agora está longe demais para dar algum palpite.
Agora,
sinto-me segura para te dizer que tenho vontade é de escrever, como a Raquel,
do livro “A Bolsa Amarela” que a mamãe me deu e lemos tantas vezes. Lembra que
ela era cheia de vontades? Pois é, descobri que também sou. E descobri,
principalmente, que, às vezes, conseguimos matar nossas vontades.
Hoje estou
matando a saudade de você sempre por perto. Quando leio um texto para crianças
lembro nossas eternas brincadeiras, me emociono. Ao ler Monteiro Lobato, Ruth
Rocha, Ana Maria Machado, Bartolomeu Campos de Queirós, Celso Sisto e tantos
outros, sinto que posso continuar a sonhar, e issome faz bem. Quero que você
pense em mim como a menina que roubava livros, e que está em busca da
liberdade. A liberdade da alma, do espírito, principalmente.
Um
grande abraço
Mil
beijos cor de cereja para você!
Mimi
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