(Imagem: Simone Matias)
Era uma vez uma menina que
sonhava ser bailarina. Tinha medo de cachorro grande, barata, ficar sozinha e
principalmente de escuro. Dizem por aí que esse medo ela ainda tem.
A menina tagarelava sem parar.
Gostava de correr, pular corda e elástico, ir à casa da avó, passear com os
tios, furar onda na praia, fazer castelos de areia e comer picolé de limão. Hummm,
isso ela ainda gosta muito.
Essa menina era a mais alta da turma.
Tinha vários amigos. Gostava de brincar com as meninas e meninos. Andava de
bicicleta e caia muito. Os joelhos, sempre com aquelas marcas grandes de
feridas constantes. E essas marcas ela ainda tem.
A menina gostava muito de ler e
estudar. Tinha seus professores
prediletos, história, matemática, português e ciências. Um era muito eclético,
vivia de óculos escuros e contava histórias de vários mundos. Outro era muito
bravo, exigente demais. Enquanto a maioria tinha medo ela gostava desse jeito
severo. Tinha a professora cara de sapo. Era um apelido carinhoso. Não tínhamos
como evitar. Minha professora predileta que sempre dizia para escrevermos,
escrevermos, escrevermos. E o professor de ciências com suas imensas coleções
de animais de todos os tipos então, era demais!
Era uma menina que cresceu
criando coragem. Coragem para fazer novos amigos, coragem para tentar usar uma
sapatilha de ponta, coragem para fazer amigos, coragem para inventar
histórias...
A menina queria ser bailarina,
mas depois mudou de ideia. Queria ser cantora de rock, professora, escritora,
advogada e mais um monte de coisas.
Era uma menina que se tornou
professora, apesar de todas as dúvidas. Aliás, essa menina tinha dificuldade em
decidir as coisas, ficava sempre entre uma e outra, e no unidunitê das escolhas
ganhava sempre uma delas.
Quando se tornou professora a
menina quis ser outra coisa. Queria defender as pessoas que sofriam injustiças.
Adorava causas perdidas, e dizem que ainda adora. Formou-se defensora dos
fracos e oprimidos, mas ainda continuava menina, inquieta, ansiosa, querendo
mais.
Um dia essa menina, que adorava
ler histórias daqui e de lá, viu também que gostava muito de ver várias formas
de contar. Os mágicos contadores e encantadores a enfeitiçaram. Queria fazer
aquilo também.
A força do que lia era tanta que
pulsava em seu peito. Aquele pulsar começou a ficar tão constante e insistente
que perturbou a menina. A tagarelice da infância deu lugar para as histórias
contadas.
A menina então teve uma ideia.
Também queria inventar histórias, de todo jeito, de todo tipo.
Era uma menina que queria ser
bailarina, professora, defensora dos fracos, contadora de histórias e
escritora.
E na indecisão das escolhas preferiu ser todas as coisas.
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