Pedro e a cor do
inimigo
Por Milene
Barazzetti
Dia de jogo é uma
loucura, ainda mais no Maracanã. Meu nome é Pedro e eu vou assistir
ao jogo, domingo, com meu pai. O Brasil iria jogar com a Argentina.
Eu queria ir com a roupa toda azul, mas meu pai disse que isso seria
um absurdo total, que era a cor do inimigo.
Não sei por que
eles estão discutindo sobre esse assunto. Fiquei com o ouvido
grudado atrás da porta.
Minha mãe estava
tão preocupada e eu não consegui escutar direito por que tanta
preocupação. Eles começaram a falar muito baixinho. Meu ouvido até
grudou ainda mais atrás da porta de tanto que eu o espremi para
ouvir. Só consegui me soltar porque a mana passou e me deu uma
palmada. Ter irmã é uma chatice!
Voltei para o quarto
e deitei embaixo das cobertas fingindo que estava dormindo. Vai que a
mãe tinha escutado o tabefe da mana. A minha mãe tinha o melhor
ouvido do mundo. Meu pai sempre diz que ela deveria ir ao médico
para ver o porquê de tanta “escutação”.
Na cama fiquei
pensando sobre como era esse tal Maracanã, e porque não podia ir
com a roupa toda azul como eu queria. E de tanto pensar acabei
recebendo uma visita no meu quarto. No início só consegui enxergar
seus olhos. Eram bem azulados. Depois vi a sua sombra. Parecia um
menino comum. Fiquei com medo. Coloquei a coberta bem abaixo do olho,
me cobrindo o máximo que pude. Só os olhos ficaram de fora.
Precisava observar, afinal tinha um estranho no meu quarto. Ele
chegou mais perto. Pude ver melhor. O menino era todo azul! Todo ele.
Cabelo, corpo, roupas, tudo azulzinho da silva.
Lembrei de uma
história que a profe contou sobre uma ideia que era toda azul. Será
que o menino tinha pulado daquela história? Comecei a ficar com
medo. Por que ele estava ali parado me olhando? E ele não dizia
nada. Até que colocou a mão na minha testa.
Nossa! Fomos para um
lugar maneiro. Tinham vários meninos jogando futebol. A grama era
verdinha. Os meninos eram todos azulados. Isso mesmo, igual ao meu
amigo sem nome. Comecei a jogar junto com eles. Foi aí que eu vi que
estava ficando azul também. Lembrei o que meu pai disse: - Azul é a
cor do inimigo. Meu coração disparou. Se eu ficasse daquela cor meu
pai não ia mais me levar no Maracanã. Eu iria perder a tal final.
Ele iria ficar chateado. Pior era ter que aguentar minha irmã me
chamando de Azulino. Como eu voltava pra casa agora?
- Socorrooooooo!!!!
Acordei com a minha
mãe me sacudindo com aquela cara de preocupada que só as mães
sabem fazer.
Levantei e corri
para o espelho do quarto da minha irmã. Ufa! Estava com minha cor
normal de novo. Atrás de mim estava ele parado. Ele mesmo, o menino
azul. Deu uma piscadela, e virou vento. Voou tão rápido para fora
do quarto que nem minha mãe viu. Não viu mas escutou.
- Que zumbido foi
esse menino?
- Nada não mãe, é
só meu amigo Argentino que veio me visitar.
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